quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Uma busca por personagens paulistanos

Na quinta-feira à noite, dia 20 de agosto, em realização do CEM (Centro de Estudos da Metrópole) e do Centro Cultural São Paulo, ocorreu a mesa de debates “O olhar do documentário sobre os problemas da metrópole”, parte da Mostra de documentários”Invenções no Cotidiano”. Participaram Rubens Fonseca Jr., professor da ECA (Escola de Comunicação e Artes) da USP (Universidade de São Paulo), Henri Gervaiseau, documentarista e coordenador da área de Difusão do CEM, e Ugo Giorgetti, cineasta que teve seu Edifício Martinelli exibido.

Ao longo desta semana de olhares sobre a metrópole e seus estudos, o debate ali levantado trouxe uma outra abordagem sobre o mundo urbano, sobre seus personagens, seus habitantes.

Rubens, o primeiro a falar, logo colocou o cerne do que acredita ser o problema de São Paulo: “sua própria característica cosmopolita, a identidade de seus próprios habitantes, um problema difícil de pensar, pois ele mesmo é multifacético”. O professor enveredou a discussão para a busca do que seria o personagem paulistano, e como ele teria sido retratado pela filmografia do século XX.

A busca pelo personagem, pelo cidadão, pelo habitante de São Paulo. Rubens vê apenas em dois cineastas um retrato claro do que seria esse paulistano. Um deles é Alberto Cavalcanti. O outro estava sentado a seu lado, era Ugo. “São decantações consistentes do que podemos chamar de personagem paulistano. Mas isso é uma exceção à regra”.

O diretor de Edifício Martinelli não acredita que tenha achado esses personagens. Ou pelo menos que eles façam de alguma forma parte de um retrato verdadeiro ao qual o documentário possa chegar. “Meu documentário sobre o Martinelli foi uma seleção de personagens, era o que eu esperava, o que eu queria ouvir, Eu escolhia personagens que atendiam à minha expectativa. Lógico, aquilo era impressionante, havia um mundo dentro daquele prédio. Mas havia outras pessoas que não me interessavam e as quais eu ignorei. Mas elas existem”.

Então o que o cinema oferece ao olhar sobre a metrópole: “Estou absolutamente convencido de que não há documentário. Todos que eu fiz são filmes de ficção. Exemplo, um personagem me interessa. A partir daí, vou reinventar o cotidiano dele e o meu, vou pegar dele o que me interessa. É impossível você fazer um documentário, impossível buscar a verdade em uma pessoa”.

Gervaiseau, diretor de “Em Trânsito” e “Moro na Tiradentes” – feitos na divisão CEM Audiovisual – tem uma outra abordagem. Está preocupado em encontrar esse cotidiano urbano em suas dimensões mais complexas, quer retratar a dinâmica, não os personagens. “Temos muitas vezes a noção de que o cotidiano é o banal, é qualquer coisa, quando na verdade inventar o cotidiano é ir para além da opacidade desse cotidiano. Há um filme importante da recente produção, ‘Ônibus 174’, que é o grande acontecimento. ‘Em Trânsito’ é, de certa forma, um anti-174. É o que acontece no dia-a-dia, quando não acontece nada. Ou seja, como é viajar e pegar o ônibus e o trem todo o dia, o que se inventa nessa aparente banalidade do cotidiano”.

Nessa investigação, por fim, Gervaiseau quer descobrir as vidas anônimas que passam em segredo, uma forma própria da vida nas metrópoles. Ele parece encontrar alguma verdade nas investigações que faz, acredita que o documentário “faz desvendar e despertar a curiosidade para algo que existe, pessoas e personagens que existem, e não apenas a que a ficção nos acostumou a ver”.

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