domingo, 23 de agosto de 2009

A primeira mesa - Um reflexão sobre identidade e pertencimento em São Paulo, Estados Unidos, Holanda e Viena




A sessão plenária de abertura, a primeira de três que ocorreriam durante a Conferência, debateu o tema “Identidade e Pertencimento”.

O pertencimento, o sentir-se cidadão, ou em alguns casos fazer-se cidadão, em quatro localidades: São Paulo, na palestra de Tereza Caldeira, um estudo comparativo entre Estados Unidos e Holanda, com Jan Duyvendak, e, por último, a questão da identidade europeia no caso específico de Viena com Andreas Novy.

Caldeira abriu o evento com um exemplo conhecido dos paulistanos, mas que poderia servir comparativamente a outros aglomerados urbanos. A pesquisadora falou da oposição entre as pichações e as câmeras e muros, formas de controle. Esse desequilíbrio simbólico da uniformidade do espaço marca a tensão social do cotidiano urbano de São Paulo. “A pichação, ao contrário do grafite, continua a ser transgressora, uma mistura de anarquismo e risco físico”. A pichação demonstra essa anarquia, o puro ódio vindo da necessidade de fazer-se pertencer.

Nesta cidade de muros e medos, “antes a violência não podia ser marcada, era necessário dar a falsa impressão de que havia mobilidade social”. Com a democratização da vida política, “surgiu a possibilidade de manifestações como a de pichadores ocorrer, possibilidade à transgressão, mas mesmo assim ainda não é o espaço necessário”.

Jan trabalhou o conceito da nostalgia, da tradição que impede o fazer pertencer, e dentro dessa ideia fez uma comparação interessante. Procurou entender o pertencimento em dois espaços diferentes, Estados Unidos e Holanda, mas não apenas; também observou a mudança de pertencimento que se origina no espaço privado e o que se origina no espaço público. A nostalgia dos Estados Unidos. A nostalgia na Holanda.

Por um lado, o sentir-se em casa surge a partir da mudança do lar doméstico. Nós Estados Unidos, ocorreu uma mudança sem volta, a modernização da casa, que começa a ocorrer por volta dos anos 50, inclusive com exemplos vindos da Europa. “São as chances iguais para homens e mulheres. A nostalgia daquele mundo só ocorre porque o atual está em crise.”

Na Holanda, algo diferente. Há ali uma “culturalização da cidadania, assimilação forçada de viés progressista, mas de não-tolerância com os intolerantes”. O pertencimento na Holanda envolve algo que não foi requisitado pelos holandeses. Se nos Estados Unidos a mudança ocorreu pela luta, um esforço conjunto, a casa na Holanda foi “invadida” por uma onde de migrantes, principalmente muçulmanos. Jan desenvolve dois conceitos, o de haven (abrigo) e o de heaven (paraíso). Neste caso holandês, há o conceito de paraíso, mais problemático, pois a manifestação da maioria contra uma minoria expõe o sentimento de quem não quer o intruso, mais especificamente os muçulmanos. Aí está a culturalização da cidadania.

Andréas Novy pegou o gancho. Na verdade, acabou por complementar e amarrar a noite. Falou sobre a identidade europeia, centrando-se no caso de Vienna. Uma de suas argumentações foi a “diferença entre o nós e os outros”.

É o problema da criação de uma exclusividade de grupo, a criação de uma solidariedade interna e os inimigos externos, a última instância que pode atingir o estrangeiro. Existem os de fora e os de dentro, e isso em uma situação em que a globalização mina as fronteiras, com um fluxo de informações pela Internet, com o fluxo de capitais.

Vienna é um caso interessante a se observar, pois constitui o que seria, em certa instância, o ponto de encontro entre o mundo oriental e ocidental. Mas para Novy, há dimensões desse problema que devem ser observados. A questão não está simplesmente na questão cultural, mas dentro do campo socioeconômico. “Temos que criar uma cultura simples, uma norma de identidade monoétnica, no sentido de que não deve fazer diferenças e respeitar a diversidade, mas dentro de níveis de igualdade”. O problema econômico não deve ficar sem ser observado.

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